Cheguei então ao ponto. Don Valley agora estava perto. Toronto me empurrava para o delírio, e eu o abracei de vez. Parado o ônibus, mostrei meu metropass ao motorista agitado, provavelmente por conta dos acontecimentos em Dundas, e entrei. Todos falavam da loucura que viram na tevê, e eu pensava na loucura que estava prestes a fazer.
No ipod, The greatest gig in the sky. Na mochila, escova de dente, pasta, sabonete e toalha. Roupas eu compraria no caminho. Meu celular eu tinha jogado pela janela do primeiro ônibus, ainda em Toronto. Não havia me despedido de ninguém, e nem sabia se despedida era a palavra certa. Afinal, por quanto tempo ficaria lá, sei lá onde? E o que é que eu espero lá encontrar? Só agora eu tinha me dado conta do quão impulsivo eu havia sido. Não que isso me fizesse mudar de idéia ou qualquer coisa, mas talvez a decisão tivesse sido tomada apenas porque eu podia, ou deveria poder. De qualquer forma, já tinha começado, e isso por si só já era quase o bastante.
A viagem era longa, e eu me ocupava com a revistinha de sudoku comprada na última parada. Travei logo na primeira folha. Com certa insistência, completei tudo. Ai estiquei as pernas, pronto para tirar uma soneca. Já fechando a revista, vi de relance dois cincos em uma mesma fileira.
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...and jack hits the road!
ResponderExcluirÓtimo! Eis a aceitação da aventura. E sem celular; o ritual de morte começa, rumo à purificação e à transformação do nosso eu-herói.
Curioso isso que a gente tá fazendo. Tivemos uma experiência semelhante à do nosso protagonista sem nome (e que fique sem nome até o fim, que seja ele todos nós!), que foi a da aventura no estrangeiro. Agora posicionamos o nosso herói no estrangeiro, pronto pra uma aventura que transcende a nossa. Toronto - o cenário da NOSSA aventura - é apenas o ponto de partida dele.
Há obviedades bonitas que só aparecem a posteriori. No caso, me refiro à novela como experiência transformadora. Afinal, antes da luz, veio o verbo: FIAT LUX!