- Tenho, tenho sim. Mas você costuma falar em português com qualquer um, é?
O homem sorriu, com os braços na cintura e cabeça baixa.
- Depois de um tempo aqui você aprende a ver quem é brasileiro. E esse cigarro ai, tem ou não?
Entreguei a ele o maço todo. Ele acendeu um e logo voltou ao pneu do caminhão.
- O que houve aí, senhor..?
- Eurípides. Ah, só tá um pouco vazio. Puxa a mangueira de ar ali pra mim?
- Opa.
Entreguei a ele a mangueira e decidi voltar ao meu banco. Ele parecia ser simpático, mas eu não estava para conversa naquela noite. Logo que virei as costas e comecei a andar ele perguntou:
- Rapaz, você tá nesse ônibus pra Quebec, né? Não te interessa uma carona até lá?
- Ah, não sei. Minhas coisas já estão todas no ônibus...
- Vâmo lá, rapaz. Tô precisando praticar meu português, vai.
- Valeu, mas deixa pra próxima. Boa viagem ai pro senhor.
Virei as costas e me dirigi ao ônibus, apertando o passo. Eurípides soltou uma gargalhada meio contida e voltou ao pneu.
Antes mesmo de eu dar meu segundo passo em direção ao ônibus, vi o homem da barba ruiva vindo em direção ao caminhão do seu Eurípides. Reparei que ele tirava seu "earplugs".
- So, is it all set? - disse ele, já abrindo a porta do caminhão.
- Yeah, yeah. - respondeu Eurípides, sorrindo para mim.
5.16.2010
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bem loco felipe, você conseguiu dar uma amarrada na história, coisa que precisava muito ser feita.
ResponderExcluirbacana cara
Fe, adorei o seu capítulo.
ResponderExcluirFoi bastante importante pra mim pq me fez lembrar de várias coisas muito parecidas com o que passei lá.
Desculpa eu ter demorado para postar.
Sensacional! O uso pontual e sutil que você faz das próprias experiências de viagem dá ao texto uma firmeza científica, haha.
ResponderExcluir"Depois de um tempo aqui você aprende a ver quem é brasileiro".
Belas cores, boas personagens, mano. Curti!