Capítulo 5 - Boa sorte lá!

- Caralho mano, que porra é essa?

Fiquei ali parado, olhando para a tevê por um tempo, perplexo. Eu não fazia a menor idéia do que estava acontecendo, mas na minha cabeça aparecia apenas um pensamento: a galera enlouqueceu de vez!

Por um momento eu submergi inteiramente nos meus pensamentos e comecei a refletir sobre aquilo: desde que eu havia chegado ao Canadá eu buscava constantemente me reconstruir, achar uma identidade, saber quem eu era. Mas depois de um tempo eu percebi que a multiplicidade de escolhas e de caminhos possíveis faziam dessa tarefa algo quase impossível. Então me veio a idéia de que talvez essa infinidade de possibilidades não fosse algo realmente bom e que, no final, com isso, as pessoas enlouqueceriam.

Embriagado nessa auto-satisfação de tentar explicar coisas, que no fundo eu sabia que estavam muito alem da minha compreensão, não ouvi meu colega de quarto me chamando até que ele gritou:

- Porra véi! Você tá brisando aí! Faz duas horas que to te chamando!

- Foi mal, tava viajando aqui, fala aí.

- Tá afim de ir lá na Dundas dar uma olhada nessa porra?

- Véi, eu to curioso, mas tenho que vazar, tá ficando tarde já.

- Pode crê, deixa quieto então. Boa sorte lá!

Peguei minha mochila, me despedi dele e sai até a rua. O silencio era absoluto no suburbio. Olhei para a esquerda e vi o ponto de streetcar que me levaria até o Eaton Center. Olhei para a direita e vi o ponto de ônibus que me levaria até a Don Valley – ponto de partida até Newfound Land. Olhei pro céu, respirei fundo, e comecei a andar.